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sábado, 27 de maio de 2017

As múltiplas facetas da Cidade do Cabo

Agregadora desde as grandes navegações, cidade pode ser aventureira ou baladeira, moderna ou clássica, do chá ou da cerveja. Só depende de você

“Aweh, my bru”, “Howzite, boet”, “Haibo, brother”. Seja em qual das 11 línguas oficiais for (africâner, zulu, xhosa, tswana, inglês... o cardápio é grande), uma coisa é fácil de decifrar. My bru, meu amigo, a Cidade do Cabo fala à alma. Se você está precisando dar uma guinada no astral, revigorar a esperança, sentir que o mundo-vasto-mundo é vasto e, ao mesmo tempo, aconchegante, encoste o casco do seu navio aqui. 
Há algumas teorias sobre essa energia mágica da cidade. Tem gente que lembra seu caráter multicultural, vindo desde os tempos em que o povoamento do Cabo ganhou a reputação de “Taverna dos Sete Mares” por juntar marinheiros da Europa e do Oriente. 
Outros usam um critério mais alternativo: o feng shui. Imagine-se refestelado, sentado confortavelmente numa poltrona, olhando para o mar a seus pés. Protegida pelo paredão da Table Mountain nas costas, abraçada pelas igualmente montanhosas Lion’s Head e Devil’s Peak e aberta para o oceano à frente, a Cidade do Cabo conjuga yin e yang de um jeito peculiar. A Table Mountain também tem um formato próprio, chamado “jumen”, associado à nutrição e à prosperidade. Em outras palavras, my boet, a cidade é uma mãe. 
Mother City, aliás, é seu codinome mais famoso. Localizada numa estreita península no extremo sul do continente, foi a primeira cidade fundada na África do Sul. Num país matriarcal por natureza, sua posição é privilegiada.
Mandela também a desejou fortemente, como mãe e musa. Já homem livre, ele confessou que, na prisão, olhava através da Table Bay, na direção da silhueta da Table Mountain sempre que podia. “Para nós, em Robben Island, Table Mountain era um raio de esperança. Representava o local para o qual sabíamos que íamos voltar.” E voltou. Foi aos pés dela, na Cidade do Cabo, que Madiba se instalou depois de 27 anos de cárcere. 
Memórias. Os anos de apartheid estão presentes em museus, musicais, visitas à Robben Island e reportagens de jornais que vira e mexe destacam algum personagem daqueles árduos tempos de discriminação contra os negros. 
Em setembro, por exemplo, Winnie Madikizela-Mandela, segunda mulher de Madiba, foi manchete do Cape Times no seu aniversário de 80 anos. Apareceu remoçadíssima num jantar no Belmond Mount Nelson, hotel famoso por hospedar Churchill nos seus tempos de jornalista e Agatha Christie nos seus tempos de Agatha Christie. À boca pequena, perguntava-se que poção detox ou botox Winnie havia tomado para se apresentar pelo menos 20 anos mais jovem. À boca grande, pregavam-se discursos de longa vida para que ela pudesse ver o povo de fato liberto, numa economia ainda bastante desigual no país. 
Você sentirá que o morador do cidade não esqueceu o passado, mas quer virar a página. O cenário favorece muito, seja por ter uma das sete novas maravilhas do mundo, a Table Mountain, seja por contar com uma população que recebe muito bem o turista e que intuiu que só a arte transforma. 
Não à toa, a cidade foi Capital Mundial do Design em 2014. Também vai inaugurar um megamuseu de arte contemporânea em setembro do ano que vem, o Zeitz MOCAA. A cidade gosta de usar uma máxima de Mandela: “Não dá para ficar se lamentando quando se está ocupado com coisas construtivas”. 
A proposta, enfim, é curtir intensamente o lugar, seja você aventureiro, baladeiro, bom garfo, bom copo, colecionador de histórias tocantes ou um garimpador de lojas e galerias. Se jogue, my bru.
ANTES DE IR:
Aéreo: R$ 2.693 na South Africa, com o menor tempo de escala (2 horas) entre Johannesburgo e a Cidade do Cabo. Com voos para Johannesburgo desde outubro, a Latam vai até a Cidade do Cabo por R$ 3.414. Na British, custa R$ 6.303 (escala em Londres), e na Emirates, R$ 4.919, com escala em Dubai.
Moeda: 1 rand sul-africano vale R$ 0,24. 

Vacina: é obrigatória contra a febre amarela. Tome ao menos dez dias antes do embarque e apresente o Certificado Internacional de Vacinação.
Carro: Pense bem se vale alugar um, já que a África do Sul adota a mão inglesa e o trânsito é pesado, embora as estradas sejam boas e sinalizadas. O Uber é boa opção e muito recomendado pelos locais – é considerado mais seguro no país do que os táxis.
Passeio: A Cidade do Cabo já foi chamada de Pequena Amsterdã por causa de seus canais. Esses canais viraram túneis, que você pode conhecer numa caminhada subterrânea de 3 horas – há trechos de 1652. Os canais hoje conduzem a água doce e limpa que desce da Table Mountain. Pede-se o uso de galochas ou sapatos antiderrapantes, lanternas e fôlego para subir uma escada de 3 metros. A saída é do Castelo da Boa Esperança e guias são indispensáveis. Reservas podem ser feitas online.
Bate-volta: Se o tempo permitir, vá até a prisão onde ficou Mandela. Ali você verá a cela que ele ocupou, de pouco mais de 4 metros quadrados, iluminada por uma diminuta janela e decorada com uma cama, um banquinho e uma moringa. A Robben Island é lar de 132 espécies de pássaro e foi tombada pela Unesco. As saídas da V&A Waterfront’s Clock Tower ocorrem às 9h, 11h, 13h e 15h, diariamente. O tour inclui a travessia, passeio de ônibus pela ilha com guia e o encontro com um ex-prisioneiro político do lugar: 300 rands (R$ 73); o passeio pode ser agendado pela Internet.
Turistão: Tem gente que acha um mico pegar o ônibus turístico de dois andares, mas na Cidade do Cabo ele funciona bem. O áudio, por exemplo, é divertido e crítico ao mesmo tempo. E você pode escolher entre 4 rotas – ou ficar com as 4 -, que levam a pontos icônicos como a Table Mountaint, o District Six (bairro do qual a comunidade negra foi arrancada durante o apartheid), o V&A Waterfront e os vinhedos de Constantia. O site da companhia detalha os roteiros para que você escolha com antecedênica. 
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VIAGEM A CONVITE DA SOUTH AFRICAN AIRWAYS, DA CAPE TOWN TOURISM E DO BELMOND HOTELS

O Cabo da Boa Esperança

Um dos pontos mais ao sul do continente oferece variadas atrações, animais e muito vento

A mais ou menos uma hora e meia da Cidade do Cabo fica o Cabo da Boa Esperança, que Bartolomeu Dias descobriu em 1488. É uma viagem que vale não só pelo aspecto histórico, mas pela paisagem em si, de vegetação rasteira e avestruzes altivos. Várias eram as placas na estrada alertando para os baboons (babuínos), “perigosos animais selvagens”. Não vi nenhum, mas, se visse, o alerta era para não alimentá-los, sob pena de multa. Para instituir uma multa, a prática deve ser comum. Biólogos afirmam que os babuínos se tornam agressivos quando recebem comida dos humanos. 
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